Muitos têm o desejo de serem missionários mas, poucos se dispõem a conhecer e enfrentar os desafios do dia a dia em campo transcultural
por Oade Andrade
Em algum lugar remoto nas montanhas do Sul do Sudão – África, duas mulheres, uma local e outra estrangeira estão sentadas de mãos dadas. A moradora local sorri e chama de “Ikimô” a estrangeira, todas sorriem. Ikimô, significa “nariguda”! Dar um nome que descreve algo pessoal demonstra aceitação para com a missionária junto a comunidade. Valeska Petrelli é a missionária desta cena, ela e o seu esposo Pr. Rodrigo Petrelli, vivem na África desde 2010. Atualmente fazem parte da equipe de liderança do trabalho missionário da MIAF – Missão para o Interior da África. Trabalham com o enfoque no alcance de povos africanos ainda não alcançados pelo evangelho. Nesta entrevista, Valeska nos conta a respeito do seu cotidiano e de seu marido, e de seus dois filhos; João Pedro, que tem doze anos e Asafe, nove anos de idade. Os recursos para avanço deste ministério conta com a divulgação do projeto em busca de parcerias entre as igrejas brasileiras. Você faz ideia do que é viver a integralidade do chamado na liderança e suporte a equipes missionárias? Leia e seja impactado.
– Qual o objetivo e “público” que a missão que você atua possui?
Nosso foco é trazer a oportunidade de acesso ao evangelho as tribos africanas consideradas não alcançadas. Nossa agência missionária divide a África por regiões, o nosso trabalho se dá na região entre Chade, Sudão do Sul, Uganda, República Central africana, Congo e Rwanda. Nosso alvo são lugares mais isolados onde a população não tenha nenhum cristão ou no máximo 2% de cristãos. Atualmente, na África esta população representa mais de 350 milhões de pessoas sem acesso ao evangelho, em torno de 1000 tribos.
– Qual é a atuação na prática do trabalho neste campo missionário?
Trabalhamos através de equipes missionárias que vivem nas vilas não alcançadas. Em nossa posição, atuamos para prover todo o suporte, orientação, treinamentos, avaliações e cuidado necessário para cada uma de nossas equipes. Cada equipe encontra-se em diferentes fases e apresentam diferentes necessidades de apoio. Na prática, Rodrigo visita regularmente nossas equipes; equipando, potencializando nossas áreas de trabalho e pastoreando nossos missionários. Preparamos nossos líderes para a realidade local e oferecemos um trabalho de mentoria no desenvolvimento de cada projeto que têm duração mínima de dois anos.
– Quando você fala da individualidade destes projetos, o que significa de fato?
Cada projeto em cada comunidade tem um foco específico como ferramenta para o alcance daquela comunidade, por exemplo, temos equipes médicas, agricultores, educadores, dentre outros. Nossas equipes atuam em diferentes áreas dependendo da realidade da comunidade, e além disso, cada equipe se encontra em uma fase diferente da outra; uns estão no processo de aprendizado de língua e cultura, outras já conseguiram traduzir porções da Bíblia. Algumas de nossas equipes já estão no processo de evangelização efetiva, implantação da igreja e discipulado os novos cristãos.
– Quais são os principais desafios para atender e cumprir o seu chamado? Por quê?
São os recursos, há um alto custo para chegar e manter o trabalho em lugares isolados e sem estrutura. Necessitamos de investimento de longo prazo por causa da natureza do trabalho. Para alcançar os primeiros cristãos de uma comunidade que nunca ouviu sobre Jesus é preciso em média de 2 a 6 anos de investimento intenso. Outro desafio é manter um padrão de educação de qualidade para os nossos filhos. É uma vida que exige muita paciência, flexibilidade dependência e perseverança.
– Se fosse para dar algum conselho para algum missionário que está iniciando sua jornada, qual ou quais seriam?
Vou elencar numa lista: Vá enquanto é jovem para investir suas melhores energias, ideal antes de ter filhos; mas nunca pense que é tarde demais para ir. Tenha uma profissão antes de ir, em nível técnico ou universitário, para melhor servir. Seja enviado por uma igreja que lhe recomende e te acompanhe.Se filie a uma agência séria e não saia sozinho, mesmo que sua igreja te apoie, tenha o suporte de uma agência missionária que lhe auxilie, pelo menos em sua logística no campo. Venha para o campo com uma identidade saudável, firmada em Deus, porque aqui o “ser” é essencial e o “fazer” é consequência. Se for ao contrário, você não permanecerá. Priorize lugares ou projetos em lugares mais necessitados do evangelho, não tenha medo de abandonar sua zona de conforto para os lugares onde mais necessitam de missionários. Tenha uma contínua atitude de aprendiz!
– Com relação a adaptação a culturas, há algo que deseje compartilhar?
Como já disse, venha com um coração desejoso a aprender e aguardar o momento certo para iniciar o ministério formal, depois de pelo menos um ano, por se tratar de uma nova cultura. Quando já tiver o mínimo de compreensão da cultura, se sentir adaptado e com amigos locais, daí estará pronto para começar a pôr a mão na massa, se não for assim, seu trabalho será aparentemente bom, contudo superficial e sem resultados duradouros. Adaptar-se em um novo contexto é um trabalho de paciência e fé, onde só o tempo, a perseverança e a comunhão com Deus, podem ajudá-lo a aguardar cada fase e cada momento com a atitude correta.
– Qual foi a sua maior “provação”, aquela em que foi levado ao limite para desistir dos planos de Deus para a sua vida como missionário? Como essa situação se resolveu?
Uma das maiores provações para mim é viver sempre buscando levantar o sustento necessário para nossa família e projetos. Mas, não acredito que exista uma solução para isso a não ser a total dependência e confiança no Senhor. Creio que o período de aprendizado de língua é muito difícil, um tempo de prova também. Outras provas difíceis que posso citar seriam quando nossos filhos adoecem seriamente ou são vítimas de acidentes em lugares sem estrutura médica. Já passamos por isso algumas vezes e o Senhor sempre nos surpreende e nos ajudou!
– Como conciliar a resposta do seu chamado com relação ao casamento e aos filhos?
Creio que Deus chama a família. Se alguém da família não se sente chamado, ou se um cônjuge não compreende de forma clara e profunda o chamado para apoiar o chamado do outro, não sobreviverão no campo, pelo menos não de forma saudável. Com relação aos filhos, entendemos e ensinamos sobre o chamado de Deus para nossa família. Sempre refletimos juntos sobre os privilégios e desafios em servir onde estamos. Acreditamos que nossa família é nosso primeiro ministério, buscamos viver isto na prática, pois, sabemos que se nossos filhos e cônjuges não se sentirem ministrados e amados, não conseguiremos amar e ministrar aos outros como o Senhor deseja.
-Como a Família Petrelli faz para manter-se unida em amor e na visão missionária?
Temos um tempo devocional diário todas as noites como família e assim também procuramos conversar e dedicar tempo aos filhos. Respeitamos períodos de férias e priorizamos momentos de qualidade. Compreendendo o quanto são amados por Deus e por nós na prática do dia a dia, nossos filhos respeitam os períodos de trabalho intenso e se dedicam junto conosco quando necessário. São capazes de aceitar e enfrentar sacrifícios que são solicitados a eles. Não é fácil, é um exercício diário de busca de discernimento e respeito às prioridades. Mas, tem sido possível graças a misericórdia e graça do Senhor. Depois de alguns anos no campo, resolvi criar um canal no youtube para compartilhar as histórias e experiências que já vivemos em campo transcultural, creio que este canal vem como uma resposta para várias perguntas para novos missionários e igrejas que querem melhor conhecer a realidade de uma família missionária em campo transcultural: Valeska Petrelli
CONTATOS:
E-mail: petrellisnaafrica@gmail.com
Face: Família Petrelli
YouTube: confissões de uma mãe missionária
Insta: @confissoesdeumamaemissionaria
Para contribuir entre contato via e-mail ou através do link: http://sa.aimint.org/como-participar/contribuindo