Ainda que existam muitas dificuldades, o cumprimento do chamado é o que faz tudo valer a pena
por Oade Andrade
Apaixonado pelo cumprimento do seu chamado, o Pr. Lucas Cezar Gasparotto está no Camboja para assim corresponder ao ide do Senhor. Antes de enviá-lo para lá, Deus o preparou como missionário em outras regiões do Brasil e em diversas formações como bombeiro civil, motorista de veículos de emergência e também em gastronomia. Nesta entrevista, ele abre o coração a respeito da realidade das missões e de como a igreja precisa se conscientizar para dar uma resposta, de acordo a palavra de Deus, para os campos missionários. Mesmo relatando dificuldades ele veementemente afirma, “quero incentivar que continuem firmes nesse chamado, apesar de todas as dificuldades, a nossa certeza aqui no outro lado do mundo é que Deus sempre supre nossas necessidades, sejam elas materiais, emocionais ou espirituais. Então, se você tem um chamado para fazer missões, não desista!”
Como foi que descobriu e depois correspondeu seu chamado para missões?
Desde que me converti, com 15 anos de idade, sempre soube que o Senhor havia me separado para o ministério, mas, pensei que seria para alguma igreja local, porém, aos 17 anos de idade ouvi claramente a voz do Senhor me chamando para a obra missionária. A voz dizia para olhar para os povos que ainda não conheciam o nome d’Ele. Numa noite em que eu estava orando no quarto que dividia com meu irmão um pouco mais novo, Deus falou novamente comigo, agora de forma muito mais forte! Tão forte que meu irmão estava dormindo na cama ao lado e acordou com a voz que ele também tinha ouvido. Oramos juntos até de manhã e meu coração se encheu de amor pelos perdidos, principalmente pelo continente asiático. Naquela noite Deus me disse que me levaria para a Ásia, e hoje, 16 anos depois, eu piso nesse continente com minha família para cumprir essa promessa do Pai.
Já esteve em outras missões?
Sim, estive durante um tempo em uma pequena tribo indígena na região da Mata Atlântica, os Paraty Mirim, na região da mata na cidade de Paraty, RJ. Minha esposa, a pastora Yuriko Gasparotto também já esteve na comunidade ribeirinha de Apolinário, na região do Baixo Amazonas, na divisa do Pará com o Amazonas. Além disso, estivemos por dois anos no Rio grande do Sul, na cidade de Boa Vista do Buricá, onde trabalhamos em um lar de acolhimento de crianças em situação de risco, chamado Lar Bom Pastor. Trabalhei em alguns ministérios, sempre servindo e dando suporte para as igrejas necessitadas e viajando por várias cidades, divulgando os trabalhos da AMAA – Associação Missionária Amigos da África e Ásia, organização da qual fazemos parte.
Qual o objetivo e “público” da missão no Camboja?
A Ásia é o maior polo mundial de tráfico e prostituição infantil, no Camboja isso não é diferente. Não é raro você ver pelos interiores do país os pais vendendo ou alugando seus filhos para serem explorados sexualmente, infelizmente essa é uma realidade perturbadora. Aqui em Siem Reap temos um trabalho chamado Hope Foundation, uma organização fundada pelos pastores Luciano e Andressa, que resgata crianças traficadas, vendidas ou que estão em situação de risco por não terem os pais ou algum parente capaz de cuidar delas. Elas são trazidas para a casa da Hope Foundation onde têm todo atendimento necessário, saúde, alimentação, educação e vivem aqui, são acolhidas como uma família e atendidas em todas as suas necessidades.
De que forma obtém o seu sustento?
Infelizmente, o maior desafio hoje é a falta de apoio espiritual. A igreja, de um modo geral, não têm se envolvido com a obra missionária como deveria. Não haveria problemas financeiros no campo ou problemas emocionais envolvendo missionários e suas famílias, ou nem mesmo frustrações, se realmente houvesse uma igreja forte em oração. Estive em uma tribo indígena certa vez e fui literalmente abandonado lá por minha igreja, quando eu ligava a secretária atendia e dizia que iria ver se o pastor estava lá e poderia me atender. Eu ouvia a voz dele ao fundo dizendo que não queria falar comigo! Se um pastor não quer falar com seu obreiro que está no campo missionário, você acha que ele ora ou move a igreja para orar por este obreiro? A oração é a chave para tudo no Reino de Deus, seja para fazer milagres extraordinários, seja para cair a oferta na conta do missionário antes de vencer o aluguel ou para fortalecer a família de pastores que estão nas nações. A oração é 99% do Reino de Deus, o outro 1% a oração nos ajuda a arregaçar as mangas e fazer. Parte do nosso sustento vem da AMAA, através de parceiros da missão que se comprometeram com essa obra e outra menor parte é de alguns amigos e parceiros pessoais que nos enviam ofertas esporádicas para nos ajudar com os custos no dia a dia.
Como é estar juntamente com sua família servindo no Camboja?
Sou casado com a Yuri e tenho dois filhos, Enzo de 8 anos e Pedro de 6 anos. Mas, algo que sempre tenho em meu coração e batalho muito por isso é o pastoreamento da minha família em primeiro lugar. Não posso me esforçar para ganhar almas fora de casa e deixar meus filhos sem um pai e um pastor para ensiná-los e amá-los e assim também é com a minha esposa. Um pastor que ganha o mundo, mas não consegue ganhar sua própria família, tem sérias chances de fracassar. Nossa família é nosso primeiro campo missionário a nossa esposa é a única ovelha que vai nos acompanhar por toda a vida, então, eu trato de cuidar deles da melhor maneira possível!
Com relação a adaptação a diferentes culturas, pode compartilhar sua experiência?
Toda mudança gera um desconforto no início, sejam as mudanças que fizemos dentro ou fora do país. Ao chegar aqui no Camboja tivemos aquele primeiro choque, um susto. Tudo muito diferente, língua, alimentação, cultura, aqui é um país 97% budista. Porém, com o passar dos dias a gente se acostuma e se adapta, pode levar um tempo, mas não dura para sempre. Na tribo Paraty Mirim tive uma experiência onde pensei que fosse morrer. Comecei a me sentir mal e vi que estava com os sintomas de pneumonia que já tive outras vezes quando era pequeno. O pajé da tribo era extremamente apegado aos seus deuses e fazia rituais com frequência. Quando ele me viu doente veio até mim oferecer um dos seus remédios e me disse que se eu quisesse, ele invocaria um espírito que poderia me curar, agradeci e disse que já havia um Espírito que podia me curar. Naquela noite eu piorei muito, medi minha temperatura e estava com mais de 40º de febre. Chovia muito e bem tarde da noite vi uma luz, como um farol de um carro e um homem, com roupas brancas de médico, entrou na minha barraca. Ele estava com as roupas limpas, o que já estranhei devido a chuva e o barro que estava lá fora, Ele se ajoelhou do meu lado, colocou a mão em meio peito e disse para eu descansar que no outro dia eu já estaria melhor. O sono que havia sumido voltou e enquanto ele saiu eu adormeci. Acordei bem cedo no outro dia e me sentia ótimo, como se nunca tivesse ficado doente, sabia que o Senhor havia me curado. Enquanto eu jogava futebol com algumas crianças esse pajé chegou até mim e me perguntou, “que luz era aquele que saía da sua barraca ontem a noite?” Não te disse que tinha um Espírito que poderia me curar? Ele apenas balançou a cabeça e foi embora, no outro dia, outra equipe de missionários chegaram a tribo e eu fui embora. Depois me disseram que na hora do apelo no culto, aquele pajé foi o primeiro a levantar as mãos e aceitar a Jesus como seu salvador!
Qual foi a sua maior “provação”, aquela em que foi levado ao limite para desistir dos planos de Deus para a sua vida como missionário?
Creio que a maior provação da minha vida foi quando vi minha esposa doente e pensei que ficaria viúvo, que todas as promessas que Deus havia nos dado para cumprirmos juntos não iriam acontecer. Mas, depois de quase 40 dias internada o Senhor a curou de forma espetacular e graças a Deus, todos os sintomas se foram. Para todas essas coisas se resolverem não existe uma fórmula mágica, tudo isso é resolvido da mesma forma, através da oração! Independentemente do que aconteça, o cristão precisa ter uma vida constante de oração e nós como pastores e missionários, temos esse peso maior, porque aceitarmos uma responsabilidade maior. Está escrito em Lucas 12:48, “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido”.
Maravilhas que somente o nosso Bom Deus realiza na vida de quem obedece Sua ordem…Marcos 16:15.