“Ele converterá o coração dos pais aos filhos, e os corações dos filhos a seus pais; para que eu não venha e fira a terra com maldição”. Malaquias 4:6
por Fabiana Menezes
Creio que desde a primeira família, a desconexão geracional, o conflito de pensamentos, as falhas dos pais, a rebelião e a desonra dos filhos é algo presente nos relacionamentos desde que o pecado entrou no mundo; caso contrário, o velho testamento não terminaria com esse versículo, anunciando que só convertendo nosso coração a Jesus encontramos reconciliação com Deus nas áreas familiar, geracional e espiritual. Deus escolhe a família para seus propósitos (Genesis 12:3). A família nasceu no coração de Deus, ela é a representação do Reino de Deus na terra e todos os Seus propósitos e projetos têm como cenário a família (Gn 1:27,28).
Não existe família perfeita, existe família funcional, que obedece aos padrões, princípios e valores estabelecidos por Deus. Fora desse modelo funcional a saúde mental, emocional e espiritual dos pais e principalmente a dos filhos fica comprometida. O modelo conjugal estabelecido por Deus (homem e mulher/marido e esposa/ autoridade e submissão) fundamenta a capacidade dos filhos de se relacionarem com os outros e de trabalharem em conjunto. A submissão e o amor precisam andar juntos, não sobrevivem isoladamente. São os princípios de Liderança e Administração; o homem e a mulher foram criados para esses propósitos. A função dos pais é dar aos filhos as noções de amor, afeição, equipe, liderança e administração para que eles possam ter relacionamentos saudáveis.
Deus quer curar toda a terra, a começar pela família, que é a base, o alicerce, é onde tudo começou. A família é um instrumento para trazer ao homem uma revelação mais profunda e verdadeira de Deus. Nossa visão de família sempre afetará nossa compreensão sobre Deus. Os processos de carências, abusos e rejeição começam na infância e nos distanciam de Deus. Quanto mais cedo acontecem os traumas, mais eles marcam a vida de uma pessoa (de 0 a 6 anos os traumas deixam mais marcas e sequelas). Os filhos reconhecerão melhor a paternidade de Deus através da paternidade do pai, a paternidade estabelece a sexualidade, a identidade e a herança. Eli e Davi perderam a força moral para corrigir seus filhos por que fizeram “vista grossa” diante da atitude errada dos seus filhos, e isso sempre acaba mal (1 Samuel 2:12-17; 2 Samuel 13-18). “A debilidade moral nunca é um campo neutro, ela vai produzir lixo, trazer pecado, e gerar graves consequências.” Pr. Coty – Jocum Brasil.
Deus lida com nossas responsabilidades, e na idade adulta, a responsabilidade de lidar com o que nos aconteceu é somente nossa, por que não importa o que fizeram conosco, o que importa é como estamos respondendo ao que fizeram conosco, é como reagimos ao nosso passado. Deus é quem nos ensina como devemos reagir diante das adversidades da vida. José (Gn 37- 45), foi vítima de muitas injustiças por parte de seus irmãos. Ele foi vendido como escravo por eles e também foi levado à prisão injustamente quando já estava no Egito. Ele passou muitos anos da sua vida entre crises e tempestades; ele foi jogado por seus irmãos numa cisterna seca e vendido como escravo foi acusado injustamente pela mulher de Potifar e esquecido na prisão. O trauma é uma ferida em cima da ferida, um machucado em cima de outro machucado, é como se alguém nos machucasse onde já estávamos machucados. Uma Alma ferida é capaz de deletar as pessoas, esquecê-las completamente e ser indiferente a elas, mas esquecer não é perdoar e nem é sinal que estamos curados dos traumas e das feridas (Gn 41:51). Assim como José, muitos de nós, damos por morto e enterrado algo que não está. Tudo que enterramos vivo continua vivo e tem poder sobre nós. Por isso, vamos repassando para nossos filhos, consciente ou inconscientemente, nossas feridas. O ferido fere, por que quem não perdoa repete os mesmos erros, mas aquele foi curado, cura.
José em nenhum momento foi a procura da sua família que ficou em Canaã. As vezes o perdão se confunde também com a indiferença. E por causa disso, Deus promove o encontro de José com seus irmãos (Gn 42:6,7). Deus sempre vai nos levar de volta ao “lugar” da dor, da ferida, é lá que está o nosso problema. Onde não queremos que Deus chegue, é onde Ele quer chegar. O tempo não apaga a dor, mas transforma essa dor em um sintoma que aflora no corpo ou na Alma. Os sintomas que aparecem são os frutos de uma caminhada errada, de escolhas erradas, conscientes ou inconscientes, que fizemos. Para sermos curados precisamos nos dar a conhecer, externar, verbalizar a dor, tirar às máscaras, os papéis, a falsa aparência e nos quebrantar (Gn 45:1-3). Uma Alma ferida não se revela, não se mostra como ela é, esconde sua dor; uma Alma ferida não confia nas pessoas (Gn 42:7-20). A ferida para ser curada precisa ser tratada, precisamos deixar Deus conhecer a nossa dor e rasgarmos nossa Alma para Ele. José depois de se quebrantar e chorar sua dor copiosamente consegue perdoar seus irmãos então enxergar o propósito de Deus naquela situação: Deus tornou o mal em bem (Gn 45:7,8). É assim que acontece quando perdoamos, pedimos perdão, Deus restaura, reconcilia, restitui.
Uma herança pode ser espiritual, emocional e material. Os nossos filhos são nossos herdeiros. A herança está baseada na filiação, não somente no direito ou na escolha. Por isso devemos dar aos nossos filhos, não as coisas que não tivemos, mas sim ensinar a eles o que não nos ensinaram dar o que não recebemos. Os nossos presentes para os nossos filhos não substituem a nossa presença. A compensação da ausência, do diálogo por parte dos pais, por presentes é tão nociva para os filhos quanto o adultério e o divórcio, provoca orfandade. Os pais que não tem tempo para seus filhos passam para seus filhos o conceito de que Deus não ouve nossas orações, que Ele não está interessado no que sentimos e no que temos a dizer. Os pais ensinam mais pelas suas ações do que pelas palavras.É através do nosso estilo de vida que ensinamos os nossos filhos. Ensinar através do exemplo é o único meio de ensina-los, de inspira-los. O teólogo alemão Albert Schweitzer disse que “o exemplo não é apenas uma forma de ensinar, mas a única forma eficaz de fazê-lo”. As atitudes dos pais falam mais alto do que suas palavras. Podemos dar aos nossos filhos o amor, a disciplina, o afeto, a presença que não recebemos dos nossos pais. Nós podemos dar o que não recebemos, por que Jesus é a fonte de todo amor, afeto, aceitação, perdão, reconciliação, concordância e unidade. “Eu só posso corrigir meus filhos através do meu estilo de vida.” (Pr. Coty – Jocum Brasil).
Os pais são sacerdotes, e devem cuidar dos filhos fisicamente, emocionalmente e espiritualmente, para que eles cresçam saudáveis e venham a ser homens e mulheres que tenham um entendimento real de quem Deus é. O amor sem colocar limites gera delinquência, é um ambiente propício para o pecado e para todo tipo de depravação. É um erro termos a unção de sacerdote e pouca força moral. Isso se torna perigoso e mortal, como aconteceu com os filhos de Eli e com o filho de Davi, Absalão. É perigoso para um filho estar debaixo de uma cobertura espiritual sem força moral, por que cada vez que alguém negligência sua autoridade vai dar oportunidade para o ímpio entrar e se estabelecer, gerando os desastres nas famílias. (Provérbios 25:26). Os sacerdotes e os pais, tem autoridade para confrontar pessoas que devem ser confrontadas; admoestando-as com amor e firmeza, mas sempre com sabedoria e ternura. Devemos sempre abençoar e não amaldiçoar com nossas palavras. Cada palavra amaldiçoadora dos pais tem uma ação demoníaca correspondente na vida dos filhos. Se fomos amaldiçoados por alguém temos que perdoar e abençoar a pessoa que nos amaldiçoou para que a maldição não se realize. Deus fere a terra com maldição quando não há reconciliação de gerações (Ml 4:6).
Os limites colocados pelos pais produzem afeição e segurança moral na vida dos filhos. A afeição produz compaixão, solidariedade e fortalece as emoções dos filhos. O equilíbrio entre afeição e limites estabelece nos filhos a liberdade que produz respeito, maturidade e a capacidade de superar problemas e de se relacionar. A liberdade é baseada no equilíbrio entre os limites e a afeição. Se somos irresponsáveis no sacerdócio, perdemos credibilidade e autoridade. A autoridade vem sempre do caráter, não vem do poder da posição de autoridade. A ausência de caráter produz falta de confronto com o pecado e entramos no perigoso território da passividade, da permissividade. Todo poder está em obedecer a Deus.
Mas também, aos filhos, Deus ordena que honrem seus pais, todo comportamento de desonra aos pais é amaldiçoado, por ser quebra de uma lei, de um princípio bíblico (Ex 20:12; Ef 6:1), e leva os filhos a relacionamentos, decisões e escolhas erradas, promovendo dor, ruína e destruição em todas as áreas da vida. O princípio da honra aos pais é um princípio ligado ao próprio Deus. Os 5 primeiros mandamentos se referem a Deus, os outros 5 se referem ao homem em relação ao seu próximo. O caminho da vitória e das bênçãos é o caminho da obediência a Deus e da honra aos pais. O caminho para não sermos atingidos pela maldição é ter o nosso coração reconciliado com o dos nossos pais, através do perdão que está em Jesus, e assim teremos paz com Deus. O perdão sempre trará cura para as feridas abertas pela rejeição, pelo abandono, pela humilhação, pelo abuso e pela violência. Quem não perdoa vai sempre repetir o mesmo erro. Só o perdão cura feridas. O perdão é inegociável, incondicional, irrevogável, é uma decisão, um mandamento e é unilateral. Somos devedores do perdão por que Jesus pagou toda a nossa dívida. Se nós colocamos na posição de cobradores vamos colher tormentos e dores para nós (Mt18:23-35). O perdão solta as pessoas, liberta, reconcilia gerações, restaura relacionamentos, famílias e dissolve as contendas.
Jesus nos conta a parábola do filho pródigo (Lc 15:11-24), que o filho deixou sua família e foi para o mundo, por causa dos seus desejos carnais e da sua rebeldia. E isso o levou a uma situação de miséria e destruição e nem mesmo a comida dos porcos, as alfarrobas, ele podia comer. A alfarroba é a única árvore que nasce no deserto, onde não nasce e cresce nada, nasce e cresce a alfarroba. Ela é uma representação da graça de Deus. Essa situação descrita por Jesus, revela que aquele rapaz que havia deixado sua família estava em total necessidade da graça de Deus e da Sua misericórdia. Mas quando ele caiu em si, voltou para o seu pai e através do perdão, Deus concedeu a ele uma nova chance, uma outra oportunidade de honrar seu pai e de reconstruir sua vida. “Se uma pessoa tem uma relação mal resolvida com seus pais, ela não vai saber qual é o seu valor próprio. Creio que a honra aos pais libera a capacidade de se relacionar, se amar e amar aos outros.” Pra. Ilma Cunha.
Deus colocou os pais como sacerdotes da família para serem exemplo, direção e inspiração para os filhos. Não podemos ser negligentes quanto à função e a responsabilidade sacerdotal. Os pais devem cuidar dos filhos, ama-los, disciplina-los e investir tempo de qualidade com eles. Ensina-los a amarem a Deus e a guardarem os princípios da Sua Palavra. Não devemos desistir do que o Senhor nos confiou por que Deus não desiste de nós.
Os filhos são herança do Senhor por que é o próprio Deus quem os confiou a nós (Sl 127:3). Não devemos ver a função sacerdotal da paternidade e da maternidade como uma carga muito pesada ou impossível, mas devemos aceitar com alegria este ministério e herança que o Senhor nos confiou, por que só assim entregaremos a Deus e às próximas gerações uma herança sacerdotal.
“Beijem o filho, para que ele não se ire e vocês não sejam destruídos de repente, pois num instante acende-se a sua ira. Como são felizes todos os que nele se refugiam!” Salmos 2:12
*Texto extraído do livro INSPIRAÇÕES PARA O SEU DIA – VOL 03 – Editora UpBooks. Maiores informações pelo site www.upbooks.com.br