Ainda que os caminhos não possam ser entendidos muitas vezes durante a caminhada, saiba que Deus tem sempre um plano.
por Carolina Padrão
Esta nem de longe é uma daquelas histórias da menina bonitinha que nasceu em uma família linda, que teve uma infância perfeita, conheceu seu príncipe encantado, se casaram e viveram felizes para sempre… Ana Paula Soares, uma linda garotinha loirinha, nasceu num banheiro de bar quando sua mãe tinha apenas 16 anos de idade na cidade de Belo Horizonte. A jovem não tinha onde ficar e como os planos de Deus não podem ser frustrados, o Senhor enviou uma senhora para ajudar no parto e esta acabou deixando que a moça ficasse em sua casa até que conseguisse se estabelecer. A mãe e a pequena, ficaram na casa de Dona Angélica até que se recuperassem.
Passados alguns dias, a moça pediu à Dona Angélica que ficasse com a bebezinha por alguns dias para que ela pudesse ir à casa dos pais no interior contar o que havia acontecido, uma vez que eles nem imaginavam que ela estava grávida, já que havia saído de casa para trabalhar na casa de parentes. Dona Angélica concordou e a jovem se foi. E os dias que seriam poucos, se transformaram em longos 3 meses. Ao término deste tempo, a jovem voltou e para a surpresa de Dona Angélica, no lugar de pegar a criança, perguntou se a senhora não gostaria de ficar com ela, porque ela era a mais velha de 6 irmãos, já tinha outro filho e os pais não concordaram em que ela levasse mais uma criança para a casa que já era tão pequena e com tantas dificuldades. Apesar da situação ser triste, o coração de Dona Angélica encheu-se de alegria e imediatamente, o amor que já havia nascido nos 3 meses de ausência da jovem, se tornou um forte, verdadeiro e duradouro amor de mãe.
A pequena Ana Paula, como começou a ser chamada, passou a ser a filha mais nova de uma família de 6 irmãos. Dona Angélica, já de idade, era viúva e viu seus dias preenchidos de amor e alegria com a estadia definitiva da menina, que logo foi adotada legalmente. Mas o que parecia o início de uma vida feliz e plena, era apenas o começo de uma infância difícil e doida. Ana Paula era uma criança feliz. Uma menina linda, mas a maldade e o preconceito fizeram morada em seu coraçãozinho logo cedo. Sua nova família era realmente linda. Ana foi cercada de muito amor e era paparicada por todos, mas sua família era formada por pessoas negras e a pequena, era uma menininha loirinha que logo cedo conheceu a maldade das pessoas próximas que não conseguiam entender que o amor não tem cor.
Ana Paula sofria muito, pois as pessoas não acreditavam que aquela era a sua família. Na escola gozavam dela e falavam de sua mãe e ela chorava porque queria muito ser negra. Mas este não foi o maior preconceito que ela teve que enfrentar. Constantemente, mesmo ainda muito pequena Ana Paula ouvia pessoas próximas, amigas da família, principalmente uma grande amiga de sua mãe, falar com esta o tempo todo que ela não devia tê-la adotado: “Angélica, você é louca de ter pegado essa menina. Você vai ver, ela vai ser igual a mãe, só vai te dar desgosto, vai ficar grávida com 13 anos, você vai ver. Você vai se arrepender do que fez…”. Ana Paula ouvia tudo calada, no início sem entender, mas aos poucos desenvolvendo um medo enorme de chegar aos 13 anos de idade. “Eu amava minha mãe (Dona Angélica) de todo o meu coração. Amava minha família. E o que eu menos queria na vida era decepcioná-la. Eu não entendia direito o que aquela mulher falava, só sabia que quando eu fizesse 13 anos, eu ficaria grávida e minha mãe ficaria muito triste comigo. Eu pensava que ela me mandaria embora de casa e eu não teria onde morar”.
Ana Paula sempre foi uma filha exemplar. Obediente, ajudava a mãe nos afazeres da escola, freqüentava a igreja, ajudava no culto, mas não conseguia fazer com que o medo que existia em seu coração diminuísse e nem mesmo conseguia falar disso com alguém. E quanto mais o tempo passava e ela crescia, mais medo ela tinha. O ano em que completou 13 anos foi o pior de sua vida. O medo de desapontar a mãe chegou a um grau tão elevado que ela não conseguia nem explicar o que sentia. No dia de seu aniversário, chorou muito. Mas Ana nem mesmo tinha namorado e aos 13 anos ainda era uma menina inocente e pura. Quando o ano terminou, uma mistura de alívio e medo surgiram em seu coração.
“Eu pensava que não tinha engravidado com 13 anos mas que com certeza seria com 16, porque foi assim com minha mãe biológica. Eu nem sabia como acontecia a gravidez, só pensava que um dia minha barriga começaria a crescer e pronto. Eu não tinha mágoa da minha mãe biológica, de certa forma a entendia, mas tinha um amor profundo por minha mãe que me criou e a possibilidade de desagradá-la me matava por dentro”.
O sofrimento era tão grande e real que começou a prejudicar a vida de Ana Paula em outros sentidos, até mesmo na igreja. Ana buscava a Deus de todo o coração, com todo o seu ser. Era amada por sua família, era uma moça séria, mas o preconceito e as setas do inimigo tinham entrado em seu coração de tal forma que ela já não conseguia mais se livrar disso. E foi nesse momento, quando o medo já tinha tomado conta dela que o Senhor usou uma pastora para ministrar na vida dela sobre os planos que ELE tinha para ela. “Eu nunca havia contado dos meus medos pra ninguém. Não tinha coragem de tocar no assunto. Um dia, a pastora da minha igreja chegou perto de mim e disse: ‘Ana, tenho um recado de Deus pra você. ELE manda te dizer que você não é a sua mãe. Ele manda te dizer que você está livre das maldições e das armadilhas do diabo. Ele conhece seu coração e te sonda e você está livre para viver sua vida. Esqueça o passado. Você não é sua mãe e as coisas que aconteceram não vão se repetir’.” Foi como se tivessem tirado toneladas das costas da jovem. Ela estava livre. O amor de Deus a tinha libertado e agora ela estava pronta para seguir seu verdadeiro caminho.
Ana Paula começou a se dedicar mais ainda à igreja e principalmente a Deus. A liberdade a fez buscar o amor de Deus e a fez entender que o perdão a tinha libertado. Quando ela perdoou sua mãe, ela se tornou livre e assim pôde começar a viver sua própria história.
E mais uma vez o Senhor fez com que seus planos se cumprissem. Ainda na igreja, Ana Paula conheceu o jovem que seria o escolhido de Deus para ela. Começaram a namorar, mas seus medos, que agora eram coisa do passado, nem de longe eram algo que a assombrava. Namoraram, noivaram e casaram, tudo “como manda o figurino”. Claro que houveram lutas e mais setas, do inimigo na vida da jovem e também do casal, mas Deus foi fiel para completar a obra que começou. Quando Dona Angélica estava em seu leito de morte, já no hospital, o Senhor a usou ainda de forma poderosa para abençoar a vida da filha. As últimas palavras que ela falou para Ana foram: “Filha, eu te amo muito. Você sempre foi uma filha exemplar, me orgulho muito de você e quero que você saiba que você nunca me decepcionou”. E assim, entre lágrimas, Ana Paula sentiu no seu coração o cumprimento de mais uma promessa em sua vida.
Hoje, Ana Paula Soares é pastora na cidade de Sete Lagoas – MG, no ministério Igreja Evangélica Santuário dos Anjos junto com seu marido, o Pastor Delmir Soares é mãe de dois filhos, Cristian e Matheus e está grávida da terceira filha, Anna Alice, porque Deus é fiel e seus planos não podem ser frustrados.