“Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado?
Debaixo da macieira te despertei, ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que te deu à luz.” Cânticos 8:5
por Fabiana Menezes
Se não estivermos dispostos a mudar, nada pode acontecer. Saber conviver com o deserto e amar a correção de Deus é essencial. O deserto é a escola do Senhor, onde aprendemos a depender de Deus. No deserto não temos muitos recursos, apenas os essenciais.
No deserto, ou saímos aprovados ou saímos reprovados. É grande a chance de sermos aprovados quando cremos que Deus nos guia pelos caminhos da justiça por amor do Seu nome (Sl 23:3), e nos deixamos ser transformados no entendimento (Rm 12:2). Nada é mais poderoso que o nosso arrependimento que vem através do quebrantamento. Não tem como melhorar sem mudar. É de dentro para fora, e a nossa mudança gera mudanças a nossa volta também.
“Deus me fez florescer no deserto…”. Essa é a frase que resume minha vida nos últimos anos; e ela é para mim a interpretação de Cantares 8:5. É Deus quem nos leva ao deserto; “Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração.” (Os 2:14). E eu tive, através do meu encontro com Deus, um encontro comigo mesma. E quando você está buscando a Deus, Ele te mostra quem você é e o que Ele pode fazer em você: “E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos.” (Dt 8:2).
A solidão e o silêncio do deserto são um elemento de estreita comunhão com Deus, Seu tratamento na nossa alma e no nosso caráter. O tratamento de Deus que resolve nossas carências afetivas e a dependência emocional, a busca pela afirmação dos outros, da aceitação para remediar rejeições, do perdão para curar feridas. Muitas vezes, pensei e senti que não iria suportar o que o Senhor estava me permitindo passar. Eu só queria ficar bem quieta, chorando minhas dores, sofrendo ferida. Mas Deus me dizia: “Levanta-te! Vá orar, vá jejuar, vá buscar o que Eu quero te dar. Eu escolhi começar por você.”
Canaã não está fora de nós, mas sim dentro de nós. Canaã é a nossa Alma. A conquista de Canaã é a vida em abundância que Deus tem para nós, uma vida livre pela cura e pela libertação (Jo 10:10). A conquista da terra é a conquista da nossa Alma pelo Espírito Santo, é permitirmos que Ele conquiste cada área da nossa vida (Sl 51:17,18).
A Palavra diz que somos de novo gerados: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.” (1 Pe 1:3). E é necessário, embora doloroso e sofrido, passar por esse processo; um caminho regado a lágrimas, humilhações e perseguições. Não por causa de Deus, mas por que resistimos a Ele nas provas e às mudanças (Os 13:13; Tg 4:7).
Uma gravidez têm 40 semanas, Moisés levou 40 anos para fugir para o deserto, e esteve ali 40 anos sem que lhe fosse revelado nada da parte do Senhor, depois permaneceu 40 dias com o Senhor no Monte Sinai e esteve no deserto com Israel por 40 anos; Jesus esteve orando e jejuando 40 dias no deserto, e também permaneceu com Seus discípulos 40 dias após sua ressurreição. Quarenta é o número que representa provação, sofrimento, gerar espiritual; é a geração do Reino dos céus na terra. Por isso precisamos ser gerados em Cristo, para sermos ministros da nova-aliança.
O deserto, o vale, o tempo da tribulação para o cristão não é lugar de morte, ou o seu fim, mas sim de vida, de nascimento, de florescer e dar frutos por que Deus, através do Seu Espírito Santo está conosco suprindo todas nossas necessidades, renovando nossas forças, ajudando-nos a enfrentar o sol das tribulações e aflições do deserto.
Caminhando no sol do deserto somos formosos aos Seus olhos, como as finas e belas cortinas do palácio do Rei Salomão, e na simplicidade e humildade das tendas de Quedar (Ct 1:5); até refletirmos a imagem que Ele espera de nós, a Sua imagem e semelhança, para sermos filhos cada dia mais parecidos com o Pai. Deus precisa fazer uma obra em nós para nos revelar a Sua glória.
Sou grata a Deus por cada dia desse processo, por cada lágrima, por cada passo, pela busca através da dor, pela luz da Palavra e pela direção do Espírito Santo, pela fé que Ele me deu para caminhar quando eu não enxergava o caminho a percorrer, pela Cruz do Senhor Jesus, pela promessa que Ele pode nos fazer florescer no deserto, e por Ele não desistir de nenhum de nós.
Provações e tribulações vão fazer parte da agenda de Deus na nossa vida, o deserto é o caminho para a terra da promessa, é para tirar a nossa mentalidade de escravos. Não é para nos desanimar, mas sim para perseverarmos nas promessas de Deus e rompermos com esperança, na fé, com alegria e paz porque Deus nos ama. Ele tem tudo sobre Seu controle, e nada acontece sem a Sua vontade ou permissão. O apóstolo Pedro nos lembra isso em uma de suas cartas: “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.” (1 Pedro 1:6-9).
E no meu deserto Deus sempre me trazia uma palavra: “Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.” (1 Co 1:26-31).
Quando ainda somos imaturos espiritualmente e só podemos receber o leite espiritual, não temos ainda a capacidade de digerir um pão sem fermento. Enquanto o véu não for rasgado dos nossos olhos, teremos um entendimento raso e superficial da Palavra e dos propósitos de Deus (2 Co 3:15,16).
Desde o ventre materno, Deus conhece nossa vocação e nosso chamado (Jr 1:5). Eu falava e chorava com Deus minhas limitações e justificativas para não aceitar Seu chamado. Mas Deus não quer nossas desculpas ou justificativas, Ele sabe quem somos e o quanto somos limitados. Ele sabe que somos fracos, pequenos, imperfeitos e incapazes por nós mesmos, por que é o Seu poder que se aperfeiçoa nas nossas fraquezas (2 Co 12:9).
Fazer algo para o Senhor só depende da nossa vontade e perseverança, pois é o Senhor quem nos capacita. Ele escolhe e capacita quem Ele quer. E assim enfrentei e enfrento meus desertos; florescendo, sabendo que Jesus é fonte inesgotável de tudo, absolutamente tudo que eu preciso para suportar, caminhar, esperar, me alegrar, ter paz, ser provida em todas as coisas muito além de toda medida que eu poderia pensar ou imaginar. Dele vem a graça para recebermos o que não merecemos e a misericórdia para não recebermos o que merecemos.
Deus nunca erra, Ele nunca falha, mesmo se não permanecermos fortes e imbatíveis, mesmo perdendo algumas batalhas, mas se não desistirmos e desanimarmos, por que Ele já venceu e “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.” (Rm 8:37).
Deus nos chamou e nos predestinou para vencer. E vencer a nós mesmos! O difícil não é sair do “Egito”, mas tirar o “Egito” de dentro de nós; é um processo que envolve confissão, vontade, decisão, quebrantamento e arrependimento. Há graça para a mudança (Fp 2:13).
Louvado seja Deus que nos perdoa, nos liberta, nos cura, nos reconcilia, nos restaura, nos redime, nos justifica e nos salva, por meio do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele toda honra e toda glória; “porque Dele e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém.” (Rm 11:36).